fbpx

Ampliar banda larga esbarra em saber quem paga a conta

Por Taís Fuoco | terça-feira, 14 de abril de 2009 19:16

SÃO PAULO (Reuters) – Enquanto países como Austrália decidem fazer, por iniciativa de governo, uma rede nacional de banda larga, o Brasil discute como estender as conexões de alta velocidade por todo o seu território quando as regiões mais remotas não atraem as operadoras e o governo afirma não ter todos os recursos para liderar a iniciativa.

Em seminário sobre banda larga promovido nesta terça-feira, o conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) Plínio de Aguiar Júnior citou o caso da Austrália, onde na semana passada o governo decidiu implantar uma rede de fibras ópticas por todo o país, em um projeto próximo de 30 bilhões de dólares.

"O Brasil não tem esses recursos. Aqui com certeza não serão 30 bilhões de dólares, mas é certo que poderá ser perto de 10 bilhões de dólares em cinco anos", afirmou Aguiar.

Como tem menos recursos, o Brasil vai precisar otimizar as faixas de frequência que tem para a banda larga e lançar mão também das opções sem fio, já que a Austrália optou pelas fibras ópticas, tecnologia de mais alto custo.

"Vamos depender enormemente da banda larga móvel", afirmou Aguiar, lembrando que as tecnologias sem fio são de mais rápida instalação e mais baratas.

Segundo dados da própria Anatel, o Brasil já tem 3,2 milhões de usuários de banda larga móvel, ou mais de 30 por cento das 10 milhões de conexões de alta velocidade existentes. Mas o total alcançado no final de 2008 mostra que a banda larga só chega a pouco mais de 5 por cento da população.

FORA DO PAC

Além da Austrália, que espera gerar 35 mil empregos com a rede de banda larga a partir do terceiro ano de implantação, Aguiar também citou o caso da administração do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que destinou 7 bilhões de dólares para que a FCC (equivalente à Anatel nos EUA) elabore um programa de incentivos à banda larga naquele país, além de exemplos de políticas públicas da Coréia do Sul e da França.

Os executivos presentes ao seminário, entretanto, criticaram a alta carga tributária que incide sobre o setor e o fato de as telecomunicações não serem vistas pelo governo como estratégicas. "Não há nenhum projeto de telecomunicações no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), só um pequeno programa para estimular a compra de conversores para a TV digital", afirmou o presidente do grupo Telefônica no Brasil, Antonio Carlos Valente.

O diretor de novos negócios da Oi, Pedro Ripper, também disse que a carga de impostos que recai sobre o setor é fruto "da falta da união da indústria e de uma visão do país de que telecomunicações é um eixo estratégico".

Sem um programa nacional, o Brasil tem, entretanto, algumas iniciativas que têm levado a infraestrutura a uma parte maior da geografia. Na licitação de terceira geração de celular, por exemplo, a Anatel impôs que as empresas levassem cobertura de telefonia móvel a todas as quase 2 mil cidades onde esse serviço ainda não chegava. Com as novas gerações, o celular também pode levar Internet à população.

Além disso, um programa para levar banda larga às escolas vai beneficiar, até 2010, 37 milhões de alunos da rede pública de ensino em todo o Brasil.

CINTURÃO EM PARCERIA

O Ceará, por sua vez, decidiu implantar um "cinturão digital" com 3 mil quilômetros de fibras em toda a sua extensão para garantir a infraestrutura de banda larga.

Nesse caso, em que o investimento é previsto em 60 milhões de reais, o modelo será uma parceria público-privada (PPP) onde o governo estadual vai financiar 50 por cento, o governo federal vai entrar com 19 milhões de reais e o Banco Mundial com os 11 milhões de reais restantes.

O retorno do investimento, segundo Fernando Carvalho, da Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice), está previsto em "por volta de dois anos".

Segundo ele, o leilão para escolher as empresas que prestarão o serviço deve acontecer no segundo semestre deste ano. O "cinturão digital" deve entrar em operação no início de 2010.

Fonte: Reuters Brasil