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“É preciso disputar a direção política da sociedade”, diz Giannotti

Em pouco mais de uma hora, o jornalista e comunicador popular Vito Giannotti abordou a prática sindical, conjuntura e a importância da organização de base para a luta da classe trabalhadora. A palestra marcou a abertura das atividades do III CONSAG, na manhã do dia 15 de maio.

Giannotti enfatizou a necessidade de o Sinagências ter sempre material disponível para se contrapor ao que é constantemente veiculado pela chamada grande mídia. “São matérias e editoriais que, na realidade, reforçam um ideário que ataca os trabalhadores, suas justas reivindicações e suas entidades representativas”, explicou.

O comunicador falou da importância das atividades de aglutinação de trabalhadores (atividades culturais, recreativas, sociais etc.), de a direção sindical estar junto para ouvir a categoria e difundir as iniciativas do Sindicato, além da oferta de cursos de formação política sindical. Segundo Giannotti, os empresários, os patrões, “promovem atividades, levam os administradores e gestores (uma ou duas vezes por mês) para um hotel de luxo, onde fazem a formação – na visão deles, claro -, reforçando qual é a função da empresa, qual é a política de relacionamento com os funcionários, etc. Tudo para que o empregado se empenhe em fazer com que a empresa ganhe mais dinheiro. Esses cursos acontecem com muita frequência”.

Para Giannotti, o Sinagências tem que seguir pelo mesmo caminho, ou seja, promover cursos de formação política e sindical – com viés totalmente diferente. “Formação é preparar a tropa para a guerra. Guerra contra quem quer tirar o direito de vocês”, citando práticas que já estão sendo colocadas em prática, como o rebaixamento do valor das aposentadorias e elevação a idade para obtenção do benefício. “Nós temos que politizar para saber onde atacar”, enfatizou.

Clique aqui ou sobre a imagem abaixo para assistir a um trecho da palestra.

Outra preocupação de Giannotti é investir massivamente nos meios de comunicação para disputar ‘a mente e os corações das pessoas’, no sentido de se contrapor àqueles que querem retirar direitos. “É a batalha, a disputa da hegemonia, ou seja, de quem dá a direção política da sociedade. Precisamos utilizar todos esses meios para explicar, esclarecer a população. E a primeira população são os próprios colegas de vocês”.

Intervenções

No momento das intervenções, o delegado Alexandre, da Anatel-SP, indagou se a CUT e sindicatos filiados, hoje, dão sustentação ao governo, tornando-se ‘pelegas’ e pouco atuantes.

Giannotti explicou que uns sindicatos realmente ‘amarelaram’. “Se você acha que tal central não dá mais, cai fora. Agora, não é cair fora e ficar no limbo. Tem que se juntar com quem quer um tipo de organização sindical ‘vermelha’. Se há alguém na central que está amarelando, temos que criticar e combater. E afirmar e dar força a quem está na central mas com outra proposta, ‘vermelha’. Ou seja, apoiar iniciativas que estão mais à esquerda e combater quem quer levar o movimento para a direita. Isso é uma luta interna normal em qualquer central ou sindicato”.

O delegado Thiago, da ANTT-DF pediu opinião sobre a terceirização e quarteirização, citando o exemplo da PH Service, empresa terceirizada que deu calote em quase 7,5 mil trabalhadores. A empresa era a que mais faturava com contratos de terceirização de serviços com órgãos públicos na Esplanada dos Ministérios e rompeu contratos de prestação de serviços com órgãos públicos, deixando de pagar salários, vale transporte e tíquete alimentação.

Citando um artigo publicado na revista Carta Capital (clique aqui para ler), Giannotti destacou que há uma nova classe social nas ruas: o pós-proletariado, produzido pelo neoliberalismo. Em resumo, o pós-proletariado é a classe que está perdendo seus direitos culturais, civis, sociais, políticos e econômicos. “São muitos milhões de pessoas ao redor do mundo sem uma âncora de estabilidade. São também chamados de precariado, uma combinação do adjetivo precário com o substantivo proletariado. O que está em curso é um processo de flexibilização do trabalho global”.

O comunicador também foi indagado pelo presidente do Sinagências, João Maria Medeiros de Oliveira (Anvisa – DF). Ele questionou a falta de engajamento político e sindical dos servidores jovens, da nova geração, abordando o esvaziamento e o distanciamento do movimento. “Por outro lado, notamos que o próprio governo fomenta a criação de entidades (associações e outros tipos de organização) que acabam confundindo e dividindo a categoria. Temos ainda o problema da grande filiação em época de negociação, depois ocorre o inverso. Como poderíamos trazer esses companheiros para o sindicato?”

Para Giannotti, a questão é extremamente difícil e delicada. “Os sindicatos estão desmoralizados, desacreditados. E isso não tem nada a ver com o que aconteceu nas décadas de 80 e 90. É uma dificuldade enorme do Brasil e no mundo. O esvaziamento dos sindicatos e partidos é fato. Para além da comunicação, temos que ter uma nova prática sindical que reconquiste a confiança (junto à base, conversando com a base); muita formação política, com cursos a cada três meses (as empresas fazem isso para ganhar dinheiro; nós temos que fazer para mudar e melhorar a mentalidade das pessoas)”, enfatizou.

Finalizando as intervenções, o delegado Willian (Anatel-ES) lembrou que as agências foram criadas num processo neoliberal de governo, o que é um problema, mas que o sindicato faz parte da solução, política, “pois fazemos parte do Brasil e temos que lutar pelo Brasil”. Giannotti lembrou que, antes, é preciso ter um projeto político de Brasil, “retomar as reformas de base para caminharmos rumo a uma nova sociedade”.

>>> Não perca a série de reportagens que o Sinagências está produzindo sobre o III CONSAG. O objetivo é oportunizar a todos os servidores o rico debate e as deliberações que foram tomadas durante o evento. Os vídeos respectivos estarão disponíveis ao final da série.